A neta de Gardel - Romance de Waldomiro Manfroi
"Assim que a memória de Homero recuperou as Típicas de Aníbal Troilo e de Francisco Canaro, que escutava pelas ondas curtas da Rádio Belgrano de Buenos Aires, quando era jovem, suas pernas foram tecendo os movimentos e os floreios mais ousados do tango. De repente, lembrando as figurações que fazia quando dançava tango na zona e as mulheres faziam fila para dançar com ele, suas pernas se juntaram às pernas de Victória, como se sustentassem um único corpo. Dançaram e dançaram..."
É mais ou menos assim que somos tratados pelo autor: Aos poucos começa-se a escutar um tango ao longe, nas entrelinhas, o compasso marcado, dois por quatro, se alinha as batidas do nosso coração e eu acho que é nessa hora que somos convidados a dançar. Carregados generosamente pelas mãos sujas de tinta e desejo de Priscyla ou pela voz de Victória, a neta de Gardel, ou Arrastados gravemente como a letra de um tango pelas mãos tremulas de Homero. Já não há mais volta, estamos no meio do salão, a "media luz, no centro do mundo, no meio da história. Só nos resta rememorar a paixão pela vida e embriagar o medo de que nada daquilo esteja mesmo acontecendo. Agora a única opção que temos é responder ao autor: Qual a diferença entre uma máquina de lavar e o desaparecimento de um bando de pombas? Qual a diferença entre a realidade e a fantasia. Deixe-se levar. Segundo Discépolo, grande poeta argentino, "o tango é um pensamento triste que se pode dançar" eu diria que, A neta de Gardel, de Waldomiro Manfroi, é um livro triste que se pode dançar, rir e amar novamente.
VESTÍGIOS
VirgíniaH Vianna Rocha, Walter Galvani, Tabajara Ruas e Dulcinea Santos fazem comentários sobre o livro Vestígios.
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A Saúde dos Ventos
A Edições BesouroBox lança no próximo dia 05 de novembro, às 18h, durante a 61ª Feira do Livro de Porto Alegre, na Praça de Autógrafos, o livro "A Saúde dos Ventos – A evolução da Ciência Médica e as origens da Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre", do escritor e médico brasileiro Waldomiro Manfroi. Tendo como unidade narrativa a centenária Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre, criada em 25 de julho de 1898, Waldomiro Manfroi faz uma revisão da Medicina, desde os deuses gregos até a atualidade. Para dar uma conotação histórica aproximada, o autor registra a reflexão que fez o biólogo francês Jean Bernard, quando comparou os recursos médicos disponíveis através de décadas:
“O médico que tivesse adormecido em 1900 e acordado em 1930 se surpreenderia com as transformações do mundo, porém, nem tanto com as mudanças da Medicina. O mesmo não aconteceria com outro médico que tivesse adormecido em 1930 e acordado em 1960. Este ficaria estarrecido com sua própria ignorância, diante do progresso alcançado pela ciência médica”.
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A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA VIDA DAS PESSOAS E NA SOCIEDADE.
DISCURSO PROFERIDO NA ACADEMIA RIO-GRANDENSE DE LETRAS, QUANDO DA POSSE DO ACADÊMICO Waldomiro Carlos Manfroi, NA CADEIRA NÚMERO 30, NO DIA 30/04/2009, NO MEMORIAL DO RIO GRANDE DO SUL.
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A SINGULAR RELAÇÃO ENTRE POSITIVISMO E MEDICINA NO RIO GRANDE DO SUL.
Seguindo as realizações de três figuras médicas proeminentes, de Porto Alegre, no final do Século XIX e início do Século XX, Protásio Antônio Alves, Olympio Olinto de Oliveira e Eduardo Sarmento Leite da Fonseca, apresentamos, de forma condensada, a singular relação que existiu entre positivismo e Medicina no Rio Grande do Sul. Estes três vultos históricos, a despeito de suas divergências filosóficas e políticas, trouxeram os avanços das suas áreas de atuação, criaram a Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre, em 25/08/1898, e dedicaram suas vidas ao ensino, à assistência e a pesquisa.
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RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE: DE 1981 A 2010.
Quando o Dr. Cyro Martins motivou um grupo de colegas médicos das diversas especialidades a se incorporarem a ele para realizar um seminário sobre a Perspectiva da Relação Médico-Paciente, os rituais do fazer na medicina e da formação médica, em Porto Alegre e no mundo, eram distintos dos de hoje,. Não só o universo da Medicina era diferente, como mundo todo se transformava em sua concepção social.
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MÉDICOS ESCRITORES: UMA LONGA E CONTÍNUA TRADIÇÃO
As razões pelas quais apresento este trabalho estão relacionadas à necessidade de atender a um convite do escritor e jornalista Marcelo Spalding, para participar junto com José Eduardo Degrazia e Franklin Cunha, em 31 de julho de 2009, de mesa redonda sobre o tema deste título. Na ocasião do evento, o número que arrolei era bem menor do que apresento hoje, pois continuei pesquisando sobre o assunto. Ao realizar outra conferência, sobre o mesmo tema, na Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, em 27 de agosto de 2011, novos nomes surgiram, por lembrança de colegas.
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O amigo Cyro Martins.
Quando Maria Helena convidou-me para falar de Cyro Martins como amigo, num dos eventos dos “Cem Anos do seu Nascimento”, percebi que ela me incumbia de uma tarefa singular. Singular porque, na minha manifestação precisava lembrar detalhes de foro íntimo entre duas pessoas que, por forças do destino ou outra conotação que se queira dar, se tornaram amigas. Por não saber bem então sobre o que devia falar, visto que outras pessoas abordariam sua extensa obra literária ou científica, voltei à carga para ver se entendia melhor sobre o que devia tratar a respeito do nosso pai Cyro Martins.
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CARIDADE, ASSISTÊNCIA E CIÊNCIA MÉDICA NA
SANTA CASA DE PORTO ALEGRE, ATRAVÉS DOS TEMPOS
Santa Casa: caridade e assistência
Tivessem imperado os limites territoriais definidos no Tratado de Tordesilhas, assinado entre Espanha e Portugal, em 1494, o Rio Grande do Sul não seria território brasileiro. A conquista de toda essa parte meridional teve início quando, em 1680, Portugal decidiu estabelecer um enclave avançado no Rio da Prata, através da Colônia de Sacramento.
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Tempo de viver.
Romance Palmarinca e EST, 1992
Prefácio
Uma obra literária pode ser analisada sob diferentes aspectos - seu estilo, sua forma, seu conteúdo ou sua mensagem, entre muitos outros. O estilo e a forma caracterizam de tal forma o autor que não é fácil modificá-los. O conteúdo e a mensagem variam de obra para obra e todos esses fatores, em conjunto ou isoladamente, agradam a uns, desagradam a outros e dificilmente contentam a todos.
Essa característica fundamental do trabalho criativo e o risco ao qual se expõe todo aquele que se expressa através das mais variadas formas de comunicação, implicitamente, submetendo à apreciação de outros suas idéias, seu trabalho, em resumo, aquilo que criou. ( Veja, set. 1987).
Tempo de viver é um convite à “parada” e à “reflexão”. A natureza da temática faz supor que seu autor fala de um personagem que tenha chegado aos “50”, e sua mensagem parece ser dirigida em especial aos quarentões. Todos concordam que essa seria a hora obrigatória da “parada”, mas sabem também que é principalmente a hora da “fuga”, pois pensar, refletir, reavaliar, reexaminar e modificar não é fácil e na maioria das vezes penoso.
Possivelmente baseado em suas vivências, o autor escolheu com muita propriedade um momento em que todos são obrigados a parar e pensar - a doença e a dor, em especial o infarto do miocárdio e as dores típicas que o precedem e o acompanham.
Não tendo identidade definida, o personagem central ajusta-se - com as necessárias adaptações - a todos os que lerem o livro.
Para dar vida a esse personagem polivalente e quase onipresente, sem precisar épocas, o autor idealiza uma tela de projeção, na qual, a comando próprio ou por determinação de terceiros, são projetadas cenas da infância, adolescência e vida adulta do personagem, figura central de todo o enredo, e através de cujas vivências reais ou imaginárias é analisado o sentido e os valores de uma vida.
Muitos fatos, situações, pessoas, grupos, críticos, juizes... não são perfeitamente definidos ou caracterizados, sendo provável que na imaginação do autor se tenham todos fundido em um único personagem. Seriam, talvez, projeções de uma experiência psicanalítica vivida pelo personagem-paciente, na qual obrigatoriamente existe um juiz, um grupo... a própria família... uma Corte de Justiça, bem como poderia ser uma alusão à existência de seres superiores, espíritos evoluídos e purificados por outras encarnações... extraterrenos vindos de naves espaciais. A natureza específica deles parece, entretanto, ser deixada à conveniência e ao critério dos leitores.
O primeiro enfoque é dado á infância e á pré-adolescência do personagem. Época triste, marcada por tragédias, perdas, solidão, incomunicabilidade, medo, culpa, fantasias marcantes e inaceitação de fatos e situações que nem ele consegue definir.
O registro de fatos traduz os moldes da educação típica de uma época em que a criança não tinha vez, e a maldição e o castigo de Deus a ninguém poupava, como prova o fato da excomunhão aplicada pelo diretor de um colégio religioso a uma criança de onze anos, sanção que pela permanente ameaça de acarretar desgraças e castigos tinha a capacidade de marcar suas vítimas por toda uma vida. Obviamente, a pré-adolescência e adolescência - tão difíceis em condições de normalidade - só poderiam ter sido também difíceis, confusas e transcorridas à base de medos e culpas trazidos de uma infância tão conturbada. O simples registro desses fatos dirige o leitor a temas atuais de educação, como a influência e a participação de fatores genéticos e ambientais no desenvolvimento, formação e atuação do indivíduo na sociedade.
Se o detalhamento da vida universitária não é tão especifico, indiretamente deixa supor um jovem buscando desesperadamente “respostas nos livros” - possivelmente sem as encontrar - e criando mecanismos de projeção para encobrir e disfarçar o medo e as culpas que sob as mais variadas formas certamente não teriam deixado de acompanhá-lo.
A análise das razoes que o teriam levado o autor a continuar inconformado com o sistema, tanto em sua condição de universitário como de médico, professor universitário; suas andanças por outros países e continentes observando, ouvindo, perguntando, comparando, certamente terão seu embasamento na inaceitação da tristeza e o sofrimento direta ou indiretamente a ele propostos como substitutos obrigatórios da alegria e do prazer, e da imposição de culpas e responsabilização por fatos alheios à sua vontade, dos quais progressivamente consegue libertar-se. Não esconde o valor que atribui à liberdade em seu sentido mais amplo, passa a gostar mais de si próprio, a valorizar seu corpo, encontra formas de fazer seu reencontro com a natureza e a vida, não escondendo seu repúdio pela violência e pela repressão. A capacidade de aceitar - mesmo sem entender - a impossibilidade da existência de grupos consensuais torna possível um convívio social e familiar menos tenso e sofrido.
Dos poucos personagens que especifica e identifica, inclui Antônio e sua vida obstinada de “executivo”, paradigma de uma sociedade louca, registrando as dificuldades paralelas que enfrenta um paciente necessitando de internação hospitalar e cuidados médicos; constata a forma pela qual muitos médicos e serviços, confundidos com a enormidade de recursos terapêuticos que a tecnologia atual colocou a seu serviço, tornam-se incapazes de entender que um paciente é capaz de chegar à loucura como resultado do que pretendido ser o que lhe é mais adequado como tratamento. Enfatiza a necessidade e a inviabilidade de um tratamento médico individualizado, mostrando os efeitos, sempre eficientes, do devotamento, da persistência e da simplicidade terapêutica quando tudo parece estar perdido.
Ao “vestir-se” de Dr. Alfredo e atender ocasionalmente o casal Alberto Schimith, retrata a negação habitual e obstinada do homem em face à realidade da doença; espelha a simplificação com a qual são tratados os problemas médicos, sem deixar de chamar atenção para os fatores sociais que contribuíram para o inferno de Alberto. Na pessoa do “senhor Schimith pai”, retrata o ridículo e as desgraças provocadas por um pai castrador, acoitado pela figura típica do burro ilustre, representada pelo ignorante e incapaz Dr. Joaquim, profissional de sucesso e elevado conceito nas mais significativas camadas sociais da comunidade.
Ao descrever “seu Fritz e sua mulher”, veranistas tradicionais de uma praia qualquer, parece admitir a influência da chatice, da mediocridade, da alienação e da integração no “sistema” sem questionamentos, como formas coadjuvantes de evitar o enfarto do miocárdio em si próprio, bem como a grande possibilidade de causá-los ou precipitá-los em outros, caso “não os interrompam” como fez o personagem.
Mas onde pretendeu chegar o autor?
Entendo que cada um chegará até o ponto de suas possibilidades de captação e de entendimento, mas principalmente de sua vontade de entender.
Se o tema central de todo o texto é a morte, o personagem a enfrenta com dignidade e coragem... e de tal forma o faz que sua angústia, revolta e inconformismo desaparecem progressivamente à medida que se esgotam suas cinco horas de espera. Habilidades em torná-las mais amenas não lhe faltaram; pois em um grande percentual desse tempo, mesmo enfrentando uma situação indesejável, encontrou forças para deixar claro que no futuro sempre foi um poeta, uma mente boa e simples, que as circunstâncias e as pessoas complicaram e tornaram temporariamente infeliz.
Terá ele morrido no sentido estrito da palavra? O fato não é afirmado explicitamente. O que há de concreto é que, ao término do texto, faz uma profissão de fé em tudo o que acredita, deseja e valoriza.
Terá recebido “alta” de um tratamento psicanalítico? Terá sido resgatado por seres extraterrenos? Terá iniciado a vida eterna como preconizam os cristãos? Terá temporariamente desencarnado, como acreditam os espíritas, para num futuro remoto retornar e dar início a nova etapa de purificação? Ou será que algum médico recém-formado, inspirado nos resultados obtidos pelo colega que tratou o executivo Antônio, obstinadamente tenha resolvido tratá-lo até sua recuperação?
Romance-ficção, autobiografia?
Não creio que seja importante descobrir. Se o leitor entendeu a mensagem e decidiu que deverá reavaliar sua forma de vida e seus valores, o tempo que despendeu na leitura terá sido válido.
Lafayette de Freitas Brandão
O ultimo vôo.
Romance. Parlenda e EST, 1994
Apresentação
Waldomiro Manfroi, doublê de médico e escritor, surge com mais uma obra na praça. Trata-se de um romance onde ficção e memorialismo se fundem de maneira correta. Homem de profundas vivências, viajado, acostumou-se, na rotina diária de seu consultório, com a ingente tarefa de salvar vidas de pessoas para as quais representa, não raras vezes, a última esperança.
Além disso, na gestão de importantes cargos na esfera federal ( Professor universitário, ex.- Pró-Reitor de extensão da UFRGS, ex-Diretor da Faculdade de Medicina), enfrentou ( e soube resolvê-los) naturais conflitos humanos. Toda essa bagagem aproveitou-a muito bem como matéria-prima, reduzindo-a a palavras, através de um processo criativo seu, próprio, dando lugar a uma outra realidade mais verdadeira, que é a realidade ficcional.
Na presente obra Waldomiro Manfroi usa, como fio condutor do relato, a tragetória de um personagem que, como tantos mortais, nestes dias de violência, sofreu um assalto. Mas isto é apenas o pretexto de que se vale o Autor para, concentrando o drama vivido pelo herói ( para não falar em anti-herói) no crime que sofreu, abordar, nas entrelinhas ( e isto constitui o maior mérito do livro) a tragédia de viver do homem contemporâneo, vítima de uma sociedade que, a pretexto de o proteger, na verdade o oprime.
Neste sentido, o Narrador vai agrupando episódios aparentemente sem importância os quais, aos poucos, estruturando-se, vão desnudando o protagonista, em sua caminhante vida de que fala Gil Vicente, em seu “Auto da Alma”. Na verdade, a viagem que o personagem principal empreende pelo mundo é uma viagem que transcende o solo físico para, simbolicamente, converter-se em outra, esta questionadora da condição humana.
Portanto, não estamos aqui na presença de uma narrativa meramente linear. O autor pode até ter tido a intenção de contar uma história. E com certeza contou-a . Mas a verdadeira esconde-se nos desvãos dos signos poéticos, legível apenas por pessoas acostumadas a lidar com a palavra. Isto é, o leitor comum acompanhará com interesse a trajetória do personagem em suas aventuras mundo afora, até sofrendo com ele suas vicissitudes e reveses. Mas somente um leitor qualificado poderá assenhorear-se da outra história, aquela que o romance não conta. E isto, como ficou dito acima, constitui-se no maior mérito do livro. Porque, nesta última leitura é que se encontram verdades humanas, universais, perenes.
Em determinados momentos, perpassa pelo texto, embora tenuemente, a preocupação com o recado, como, por exemplo, quando o personagem, em suas andanças, passa pela União Soviética. Mas esta postura logo se desfaz, o leitor praticamente nem chega a senti-lo, eis que ela se dilui ao longo da obra.
A temática encontra linguagem adequada, fluente, límpida, mantendo o leitor atento até o fim.
Porto Alegre, 28 de Junho de 1994.
Prof. Laury Maciel
A confissão do espelho.
Romance. Editora Movimento, 1999
Prefácio
Uma obra literária pode ser analisada sob diferentes aspectos - seu estilo, sua forma, seu conteúdo ou sua mensagem, entre muitos outros. O estilo e a forma caracterizam de tal forma o autor que não é fácil modificá-los. O conteúdo e a mensagem variam de obra para obra e todos esses fatores, em conjunto ou isoladamente, agradam a uns, desagradam a outros e dificilmente contentam a todos.
João, o protagonista de mais este romance de Waldomiro Manfroi, é um atormentado indivíduo que deve contar ovelhas segundo a lição da avó, para tentar conciliar o sono. Contará oitenta e cinco ovelhas na primeira noite. “Na segunda, o sono chegou somente com trezentas. E na terceira, contou até o dia amanhecer e continuou acordado”.
Trata-se, portanto, de um personagem atormentado. Ele alcançou alguns degraus na escala política, posição que buscara desde os tempos de jovem. Mas buscara também o amor, deixara-se consumir, em parte, por uma paixão não correspondida. Entre o amor por Rita e a glória, o conformismo irrequieto, a necessidade de convocar rebanhos imensos de ovelhas para buscar a paz, pelo menos nas noites.
Manfroi situa a ação de seu personagem no interior do Rio Grande do Sul. Uma pequena cidade do interior, com todas aquelas figuras que lhes dão vida social. Há o bar, a boate, com prostitutas a cinqüenta mil réis, ao som de “Calu, Calu”, para onde jovens inexperientes, como João, são conduzidos por amigos mais velhos e já familiarizados com o ambiente. Há o armazém de limitado comércio. Há o padre, sempre envolvido na vida alheia.
E há o índio Tabajara, que ousa se apaixonar por Rita, a mulher branca, e pagará com a vida por essa ousadia. O interior de Manfroi é de um tempo em que as etnias se confrontavam, sacrificando especialmente negros e índios, a minoria.
Os Amaral e os Rodrigues representam as correntes políticas: getulistas, os primeiros, e cristianistas, os segundos. Naquele tempo, como ainda hoje, aqui e ali, os enfrentamentos acabavam em pancadaria e, não raro, em morte. No final da campanha, o retrato do “Velhinho” Getúlio voltará às paredes. Mas isso é apenas uma constatação histórica a dar mais cor política ao texto.
O romance, já disse alguém, é a vida íntima das nações. Manfroi, o autor deste “A confissão no Espelho”, vai por aí. A política, como pano de fundo, exacerbando as paixões na busca do poder, inquietando as pessoas, interferindo na conduta de cada um, chegando à cama dos casais, cônjuges ou amantes. A política mexendo com tudo e com todos, sem que o autor escorregue na simpatia por esta ou aquela facção, por esta ou aquela ideologia, imparcialidade necessária para que se alcance bom resultado em ficção.
Autor de dois romances anteriores, “Tempo de Viver” e “O Último Vôo”, Waldomiro Manfroi apresenta em seu texto evidente evolução, tanto no que diz respeito à linguagem, como em relação ao aprofundamento dos personagens, “A Confissão no Espelho”, temos certeza, está vários pontos acima.
Arnaldo Campos
escritor
Confissão do Espelho: o tema do encontro especular
Cardiologista renomado, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde exerceu o cargo de Pró-Reitor de Extensão, Waldomiro Manfroi desfruta o reconhecimento unânime de colegas, amigos e pacientes. Isso lhe é justamente devido em função do trabalho que há anos realiza, como médico e pesquisador de destaque nos meios científicos sul-rio-grandenses e brasileiros.
Mas sendo, por natureza, inquieto e criativo, já há algum tempo Manfroi, vem-se dedicando também à produção literária. Sensível ao desafio de articular, no texto ficcional, suas vivências de menino interiorano, ele escreve motivado pelo desejo de dar forma a seus fantasmas e a suas pulsões psíquicas. A sede de universo, ou sede de abismo, no dizer de Cyro Martins, que impele um sujeito a produzir textos literários, decorre, no seu caso, da tensão originada pela coexistência, no seu mundo íntimo, dos valores advindos de diferentes estratos culturais. De um lado, seus textos registram a força larvar das raízes indígenas sedimentadas na terra; de outro, documentam também uma cultura de tipo popular, a que se somam influxos italianos, provenientes da cultura do Vêneto. Essa mistura, por sua vez, data da infância vivida em Pinhal, antigo distrito de Palmeira das Missões, no Rio Grande do Sul, de onde advém o substrato temático que dá forma à sua ficção.
Mas falar das narrativas desse médico-escritor obriga a tratar uma instigante questão: por que, cada vez mais, os médicos sentem a necessidade de traduzir, no texto literário, as suas perplexidades diante da vida e da morte ? Talvez a resposta esteja na essência da mesma da arte que, partindo de situações-limite, transfere para o universo ficcional algumas questões que são, na vida comum, fatalmente insolúveis. Tais questões, que sensibilizam o homem desde sempre, submetendo-o a um sofrimento insuportável, resumem-se na certeza de que vivemos de um modo trágico. E de que nos diferenciamos uns dos outros apenas pelo modo, apaixonado ou não, pelo qual nos debatemos no espaço que separa a vida e a morte. Escrever torna-se, pois, o registro de uma experiência de vida que se coletiviza porque se quer permanente.
Ao apresentar aos leitores A Confissão do Espelho, cabem algumas palavras sobre seu autor: as primeiras, para homenagear o autor pela tenacidade com que enfrenta os desafios do processo de criação literária, consciente de que o texto é produto de um fazer e refazer constante, em busca da forma que melhor articule, no texto, as idéias e as emoções. Depois, para dizer também o meu carinho pela pessoa humana, generosa, disponível, respeitosa. E pura o suficiente para acreditar no menino que foi e que agora faz ressurgir, travestido em personagem, nas páginas de sua novela.
Assim é que, lendo A Confissão no Espelho, o leitor irá se deparar com um narrador perplexo que acompanha a trama de Rita, João e Tabajara, recuperando um universo longínqüo, em que os reencontros, as seduções, os sonhos, a angústia e os projetos de vida são estruturados em função de uma trama cuidadosa. Tabajara morre - ou não morre? João vivera - ou sonhara - sua experiência com Rita e Tabajara ? Quais os limites entre a vida e a fantasia ? O que pode ocorrer com um homem deslocado de seu meio natural, que se vê obrigado a conviver com a perversão da cidade? Que poder encantatório a música exerce sobre os espíritos mais simples ? Disseminando essas e outras indagações no desenrolar do texto, o autor deixa que as personagens vivam situações dramáticas. Assim, a crueldade, o atraso, o preconceito, os afetos, a amizade e as afinidades pessoais vão compondo a tessitura de um texto que o leitor acompanha passo a passo, interagindo para preencher os silêncios propositais e as lacunas do enredo. O cotidiano das cidadezinhas provincianas, com suas quermesses e cinemas, com seus bares e pensões, dimensionam o cenário dessa narrativa povoada pelas histórias de índios pobres, de posseiros e invasores. Isso, sem o autor perder de vista que o amor, a paixão e o melodrama são, conforme já observou o escritor Vargas Llosa, os melhores ingredientes para os bons textos literários.
Porto Alegre, agosto de 1998.
Léa Masina
Os demônios do lago.
Romance. EI- Edições Inteligentes. São Paulo, 2004
Durante as caminhadas nos parques as pessoas dão asas à imaginação e disfarçam sofrimentos. Nesse contesto devem ser entendidas a história de uma mãe, cujo filho é dependente químico, e as demais histórias contadas.
Assim como Afrodite é a deusa grega do amor, da alegria, da procriação, Dionísio é deus das festas. Um companheiro que toda mulher gostaria de ter a seu lado.
Alegre amoroso insinuante, provocativo. Terá participado das aventuras na África ou seria um louco sumido da família há cinco anos? E Anacleto terá mesmo conhecido e arregimentado para a causa revolucionária todas aquelas pessoas do sertão?
Terá sofrido uma transformação, com as quedas das ideologias, passando de um revolucionário anarquista a um burguês neoliberal? Estaria Fernando tão ocupado em Brasília que não poderia levar a esposa, ou teria outra família?
São dúvidas que ficam para o leitor decidir e que reforçam a situação de impotência e de espera à qual as mulheres se submeteram.
"A criatividade humana não tem limites e "Os demônios do lago" é mais uma prova disso. A partir de pessoas e cenas comuns que observou durante suas caminhadas matutinas em um conhecido parque em Porto Alegre, o autor cria histórias envolventes e recheadas de mistério e sentimento.
Vale a pena conferir estes relatos são leves, agradáveis e muito interessantes.
Quando o leitor pensar que está matando a charada, a história toma novos rumos, que certamente prenderão sua atenção e causarão muitas surpresas."
Férias interrompidas.
Romance. AGE. Porto Alegre, 2005
O autor de Férias interrompidas , Waldomiro Manfroi, nos apresenta mais uma obra ficcional. Ao analisarmos suas narrativas longas já publicadas, constatamos que, no primeiro romance, Tempo de viver, o autor se debruçou em questões da década de oitenta, dentre elas, a trágica e inesperada morte de um professor universitário, quando se encontrava na fase mais produtiva da sua carreira. Em cinco horas entre a vida e a morte, o autor faz a personagem mergulhar no passado e viajar, em delírio, na busca de um outro mundo possível.
Nesse hiato de existência, desfilam na mente da personagem todo o universo por ela vivido e lembrado, dos cinco aos quarenta e cinco anos. Nas suas lembranças, emerge seu mundo passado e presente: a escola, a universidade, a política, as guerras, a destruição da natureza pelo progresso, os meandros da política na época da abertura, “As Diretas Já”. O romance, como disse Cyro Martins, numa crônica sobre o Tempo de viver( Zero Hora, 19 de dezembro de 1992, segundo caderno): “O personagem entrou decidido no túnel do tempo. E foi arrastando o leitor.
Mas antes de empreender o que imaginava ser sua longa viagem, na realidade estava às portas do nada, experimenta mil sobressaltos, próprios dos pesadelos e da imaginação de certos ficcionistas do terror. Nesse transe o leitor esbarra com mil e uma resistências. Algumas vêm de fora, violentas como os turbilhões dos vendavais. São as inerentes à doença atual. Outras, porém, se originam no labirinto das almas. A habilidade do escritor consegue nos levar adiante, num encadeamento vertiginoso que se superpõe e que nos confundem. O que pretenderá Waldomiro Manfroi com essa corrida rumo ao imprevisto, em seu livro Tempo de viver? Com algum esforço, continuamos. Aquilo deverá chegar a alguma parte, a uma clareira, talvez. E aos que não sabem ou não lembram bem, esclareço que clareira – uma palavra bonita – é um espaço aberto no meio do mato. Obra da natureza ou do maldoso machado dos homens. Pois não é que o personagem agonizante é filho da floresta?”.
Ou, como diriam os editores do mesmo livro: “Diante da possível e angustiante presença da morte, um homem – que sofreu um infarto do miocárdio – experimenta a vertigem da memória e ao mesmo tempo, exercita a paixão da análise. Seu mundo pessoal é passado a limpo. Dores, alegrias, projetos e frustrações renascem em suas lembranças. Cenas da infância, da adolescência e da vida adulta são projetadas na consciência evocadora. Este mergulho no passado tem um alvo: descobrir o sentido da existência individual, se ela valeu a pena ou não”.
No segundo romance, O último vôo, o autor constrói sua narrativa ficcional relacionada com a tragédia que começava se projetar naquela época: os assaltos. Um homem, por não suportar a violência e a humilhação a que fora submetido durante um assalto em sua casa, decide se aposentar e viver numa praia longe dos grandes centros. Instado pelos amigos que veraneiam em férias no local, a contar sua extraordinária história, depois de muito resistir, aceita o desafio para contar como foi seu assalto. Durante os relatos, para ganhar tempo, ele conta outras histórias, onde se pode identificar a queda do Império Soviético, dez anos antes de aconteceu na realidade. A convivências e o futuro dos velhos no mundo atual. Neste romance, a ficção previu o que aconteceria com a sociedade por causa dos assaltos, 15 anos antes da realidade atual: as pessoas de bem presas por grades, os bandidos soltos. Segundo escreveu Laury Maciel sobre o Último vôo: “Manfroi concentra no drama vivido pelo herói ( para não dizer anti-herói) no crime que sofreu. Aborda, nas entrelinhas( e isto é o maior mérito do livro) a tragédia de viver do homem contemporâneo, vítima de uma sociedade que, a pretexto de se proteger, na verdade, se oprime”.
No terceiro romance, A confissão do Espelho, o autor recupera uma paixão entre uma italianinha descendente de imigrantes e um índio remanescente dos guaranis das missões. A narrativa inicia na década de quarenta do século vinte e se estende até a década de oitenta do mesmo século. As personagens vivem, no começo da história numa pequena vila do interior, com seus hábitos, suas músicas sertanejas cantadas pelo índio Tabajara e, posteriormente, se reencontram na cidade grande, onde João, Rita e Tabajara, o triângulo das personagens centrais da história, tentam ou fantasiam uma reconstrução do passado. E como se manifestou Arnaldo Campos na orelha do livro: “João, o protagonista de mais este romance de Waldomiro Manfroi, é um atormentado indivíduo que deve contar ovelhas, segundo a lição da avó, para tentar conciliar o sono. Contará oitenta e cinco ovelhas na primeira noite. Na segunda, o sono chegou somente com trezentas. E na terceira, contou até o dia amanhecer e continuou acordado. Manfroi situa a ação de seus personagens no interior do Rio Grande do Sul. Uma pequena cidade, com todas aquelas figuras que lhes dão vida social. Há o bar, a boate, e prostitutas de cinqüenta mil-réis , ao som de Calu, Calu, para onde jovens inexperientes como João, são conduzidos por amigos mais velhos e familiarizados com o ambiente. Há o armazém do limitado comércio. Há o padre, sempre envolvido na vida alheia”.
E há o que descreveu a Professora Lea Masina na sua análise crítica do romance Confissão do espelho: “Mas sendo por natureza inquieto e criativo, há algum tempo, Manfroi vem-se dedicando também à produção literária. Sensível ao desafio de articular, no texto ficcional, suas vivências de menino interiorano, ele escreve motivado pelo desejo de dar forma a seus fantasmas e a suas pulsões psíquicas. A sede do universo, ou sede do abismo, no dizer de Cyro Martins, que impele um sujeito a produzir textos literários, decorre, no seu caso, da tensão originada pela coexistência, no seu mundo íntimo, dos valores advindos de diferentes estratos culturais. De um lado, seus textos registram a força larvar das raízes indígenas sedimentadas na terra; de outro, documentam também uma cultura do tipo popular, a que se somam influxos italianos, provenientes da cultura do Vênito. Mas falar das narrativas desse médico-escritor obriga a tratar uma instigante questão: por que, cada vez mais, os médicos manifestam a necessidade de traduzir, no texto literário, as suas perplexidades diante da vida e da morte”?
No quarto romance, Os demônios do lago, Manfroi faz uma restituição das vidas e dos costumes da cidade de Porto Alegre e de uma significativa parcela da história política do Brasil: a Coluna Prestes, a Intentona Comunista, a passarela da Rua da Praia nos finais de tarde, os bailes da Reitoria, as reuniões dançantes dos centros acadêmicos da Universidade, os remanescentes dos anarquistas italianos, a aventura na construção de Brasília e sua influência sobre a vida das pessoas.
As cenas se desenvolvem desde a década de trinta do século vinte até a entrada do novo século e, o novo milênio. A narrativa ocorre no Parque Moinhos de Vento, das 6 às 18 horas. Por intermédio da fala das personagens, o leitor poderá identificar como viviam as pessoas de Porto Alegre no início do século vinte, quais eram os ideais que dominavam as mentes dos jovens de então, em especial, como era o mundo das mulheres e como conseguiram realizar ou não seus sonhos. “É interessante como o autor resgata a história do Rio Grande do Sul e mesmo do Brasil, através da história das mulheres, dando ainda conta do processo individual de libertação de cada uma, que na verdade é o resultado de uma luta que vem desde suas antepassadas. A referência aos livros, músicas e mesmo o problema de filho dependente de drogas é bem atual”. (Análise profissional do livro).
O progresso inimaginável alcançado pelas mulheres: sair sozinhas de casa à noite e de madrugada. Dirigir carros? Como ponto de reflexão, surgem as questões mais dominantes na sociedade atual: o fim das ideologias, da família tradicional, a tragédia das drogas e a desesperança dos que sonharam num mundo melhor.
Na presente narrativa: Férias interrompidas Waldomiro Manfroi parece ultrapassar seus próprios limites e se expor a um desafio maior. Quando o leitor chegar ao fim do texto, tenho certeza, que vai entender esta minha afirmativa.
Tabajara Ruas.
Escritor e diretor de cinema
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Não satisfeito com seus relatos nos romances anteriores sobre a vida e a morte, o sofrimento, a humilhação das pessoas constrangidas por assaltantes, a vida trágica dos excluídos, a singular paixão entre um índio e uma jovem branca, até chegarmos ao chamado mundo de hoje, onde se incluem os passeios nos parques, a libertação das mulheres, as conquistas das minorias, Manfroi, de forma corajosa e instigante, decide enfrentar o que nos parece ser o maior dos seus desafios na sua ficção: montar uma narrativa relacionada com a intimidade do seu trabalho. Assim nos parece. Vejamos. Férias interrompidas é uma história que se passa com um cardiologista de prestígio na cidade. Ao se ver envolvido em dois acontecimentos singelos, mas que no rigor do juízo dos homens e dos Dogmas Religiosas, são classificados como crime e pecados, ele tenta, de todas as maneiras, se livrar do problema em nome de uma causa maior: salvar seu casamento. Surge, então, a primeira pergunta: esta narrativa é uma construção ficcional? Se o autor é um cardiologista que conhece o ritual do compromisso ético, técnico, acadêmico e científico, da sua profissão, não estaria nos relatando uma singular história verídica? Embora, inusitada, verídica? Estaria nos confessando um delito que um autor personagem cometera e usara o recurso da ficção para se justificar perante seus pares: mulher, filhos, alunos, clientes, colegas, amigos? Através da ficção, o autor torna públicos seus atos, alivia-se da culpa e das conseqüências. Não é assim que agem todos humanos fora-da-lei, quando pegos com a mão na botija? Mas é oportuno lembrar, também, que a culpa é um sentimento que destroça as pessoas em todas as instâncias, com mais insistência, no sono e nos sonhos.
Este nos parece ser, o centro da questão tratada ao longo de todo o conflito vivido pela personagem: Doutor Jaime. Se o leitor, ao ler as linhas de entrada, entender que a primeira alternativa sugerida é a mais provável, sugerimos um pouco mais de paciência. Ir em frente. Então verá que a narrativa toma muitos rumos e o lastro de opções de seu julgamento se amplia. Quando chegar na metade da história, perceberá que Féria interrompidas tem muito mais a dizer. E os que chegarem até o fim, com certeza, constatarão o quanto tinham razão os que um dia disseram: a culpa destrói montanhas.
Os Editores.
Médicos Escritores: uma tradição longa e de qualidade.
Colóquio realizado no dia 31 de julho, no Instituto Fernando Pessoa, a convite do jornalista e escritor Marcelo Spalding, com a participação dos médicos escritores: Franklin Cunha, José Eduardo Degrazia e Waldomiro Carlos Manfroi,
Texto apresentado por
Waldomiro Carlos Manfroi
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Tempo de Viver 2ª Edição
Diante da possível e angustiante morte, um homem, que sofreu um infarto do miocárdio, experimenta a vertigem da memória e, ao mesmo tempo, exercita a paixão da análise. Seu mundo pessoal é passado a limpo. Dores, alegrias, projetos e frustrações renascem em suas lembranças. Cenas da infância, da adolescência e da vida adulta são projetadas na consciência evocatória. Este mergulho no passado tem um alvo: descobrir o sentido da existência individual, se ela valeu a pena ou não.Com esta temática, o autor mistura suas experiências de médico com ficção romanesca e constrói um relato sensível.
Tempo de Viver pode ser encontrado no endereço www.biblioteca24x7.com.br
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Tempo de Viver
Sabe-se, através dos tempos, que a literatura é um dos meios que registra os costumes as moradas, os alimentos, o vestuário e os sentimentos mais profundos das pessoas. E, de modo fiel, épocas e paixões, políticas e sentimentos. Por meio da literatura podemos, ainda, conhecer o perfil social e até ideológico das personagens numa determinada época, muitas vezes, anos à frente de os fatos acontecerem na realidade. Ou, quando não, elas registram situações não consideradas pela imprensa oficial e/ou imprensa dos vencedores. Enfim, os sentimentos mais profundos de cada personagem-pessoa.
Nada melhor do que ler um livro para conhecermos o seu autor, também. É por meio dos seus personagens que ele nos leva ao seu interior mais reservado, ai dito pelo não dito.
Segundo o filósofo Edgar Morin, “O romance, os contos e o cinema oferecem-nos o que é invisível nas ciências humanas, estas ocultam ou dissolvemos caracteres existenciais, subjetivos, afetivos Fo ser humano que vive suas paixões, seus amores, seus ódios, seus envolvimentos, seus delírios, suas felicidades, suas infelicidades, destino e fatalidade.”
Enfim, é a literatura que, através do romance, dos contos, da poesia e dos filmes põe à mostra as relações do ser humano com o outro, com a sociedade e com o mundo.
O Autor de Sinfonia às avessas, Waldomiro Manfroi, depois de lançar cinco livros do gênero romance, aventura-se no caminho dos contos. A natureza que alimenta seu ato criativosurge de personagens comuns do nosso meio. E, em cada uma delas, pela evocação da memória, as personagens nos conduzem a costumes passados, a amores perdidos, paixões não consumadas, sonhos irrealizados. Qual detetive no exercício do seu ofício, para identificar indícios, as personagens de Manfroi se utilizam de murmúrios, pequenos sinais dos rostos, das dobras das pernas, de sabores, cheiros, gestos, para concretizar reencontros perdidos através das décadas.
Se a literaturs nos permite também conhecer o autor dos livros que escreve, cabe uma pergunta: Qual o fascínio que o Parcão de Porto Alegre exerce sobre o autor, para justificar o nascimento de tantas personagens naquele bel recanto?
Depois de ler os contos, o leitor poderá encontrar, ou não, os motivos.
O Editor.